quinta-feira, 30 de abril de 2009

Para domingo, DIA DA MÃE

Pois é, minha gente, aí vem mais um dia da mãe, mais um daqueles que devia ser todos os dias...
Mas atendendo que ele existe para publicamente as homenagearmos, é isso que também eu vou fazer!
Apetecia-me um poema... lembrei-me logo do "meu" querido e fantástico Eugénio de Andrade!
Aqui vos deixo o seu "Poema à Mãe".
Mas tenho-vos a dizer que ao ir à procura dele (pois não o sei de cabeça) encontrei outros num site q se chama "Citador". Comecei a ler e fiquei na dúvida, mas como sou fiel, deixo-vos aqui o link ao dito site, para então escolherem o vosso favorito e já agora, digam-me qual elegeram!
CITADOR - http://www.citador.pt/poemas.php?poemas=Mae&op=9&theme=141

Poema à Mãe
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...

Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas. Boa noite.

Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade, in "Os Amantes Sem Dinheiro"


e já agora...

Para Sempre
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga quando sopra o vento
e chuva desaba,

veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade, in 'Lição de Coisas'

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